quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

para quem descansa no canto do vento
que não tem paradeiro

aquele com quem troco o turno da vigília

que vai cru
que não chega

o que dispara
aquilo que consigo se depara

puxou os remos para dentro
e agora o vento só te leva
só te leva
nunca mais te traz

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Salto

meus símbolos de liberdade
tornaram-se pedaços de casca sem cor
impróprios para se consumir.
são marcos no batente das portas por onde entrei.
entalhe precioso de um colar
caro demais para se ter quando se tem fome.
peças únicas da engrenagem que o medo se esforça para conter.

catapulta,
arco,
avalanche.

daqui pra trás tem tudo que sei,
adiante de mim,
um véu,
um lacre.

a firme mas não desconhecida barreira,
vozes densas e cheias de mãos,
são vendas, mordaças
e tudo para cegar,
imobilizar,
ensurdecer.

porém,
barreiras também tem ouvidos
e dentro de tudo que me fiz,
me construí,
me gerei,
também sei gritar

longe para mim não tem nome
não sou feita de corpo
pequena ao nú dos olhos,
mas envolta e inundade de fogo
desde o topo até o centro.

de onde nascem os vulcões
é que minha revolta se embasa,
e se me calo verde
e pareço alheia,
é nesse silêncio que me atenho atenta
observo tranquila o movimento dos rios
que férteis alimentam
toda essa engrenagem,
que correm e não apegam
e chegam maduros
à celebração do grande encontro,

então,
sou mar,
sou núvem,
sou chuva,
sou o cume das árvores
e as cascas secas,

a vertigem
o salto
e toda a liberdade

são paulo, julho de 2008