quinta-feira, 26 de agosto de 2010

germina





Para esse novo ato do meu existir
invoco as Deusas da Mata,
invoco os filhos do vento,
e toda a força da terra.

Em mim, um milagre da vida se inicia
tudo se renova e se movimenta,
cada pequena coisa, antes estabelecida,
ganha um novo lugar, uma nova terra,
um novo tempo.

Sou uma abelha fazendo mel.
Jardim para uma nova flor,
tempo de pausa,
silêncio da terra
pra semente brotar,
germinar

ger mim nar
em mim ninar

Aline Binns

sexta-feira, 16 de julho de 2010

...





sei
apenas pela consciência de meu corpo físico
não há outra amarra, senão esta

viver é aprender a tocar um tambor

e eu os escuto noite e dia,
vem chegando,
selam a paz que eu não alcanço com meus sentidos básicos,

sim, porque não existem os tambores, nem quem os toque
mas os ouço e me tocam,

foram feitos com minha própria pele,
banhados em meu sangue para amolecer,
amarrados com as tranças dos cabelos que ainda não me vieram.

é o canto da mata
todas as árvores da floresta
e os seres que me habitam e os sou
convidando-me a lembrar (-me)

saber-me

ouvir-me


imagem: performance experimental multilinguagens (Atelier Aberto)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

traço no pingo de pé, de rodar e cair.
misturar e soltar,
sede finda ao suor
fincas canções ao fundo
e alguém a velar um sono/sonho profundo de se perder...
se deixar e ainda levar-se em si...

sábado, 3 de julho de 2010

à beira do Rio




ela, ia
prenha, nua
pintada de lua
saciar
sua sede mais crua
(in)vocar
as deusas da chuva
os filhos da terra
emanar

ê mana,
ê mana,

vai lá, vai lá
à beira do Rio
se banhar
se lavar
se deixar ensinar

(canção nascida à beira do Rio Tapajós - Santarém/Pará)

terça-feira, 13 de abril de 2010

sala de espera




Se ganha em se perder.
Nesse claro amor que distraídos nos retêm,

descobrir que os ciclos não se fecham.
A liberdade da alma não se cerca.
A alma está sempre buscando sua livre expressão.
Ela só está buscando sua livre expressão.
Nada mais importa.
Apenas não me calo e parece que nisto estou louca.
E acontece,

verdadeiramente sou igual a todos,

só falo mais alto na sala de espera.


nascido em 07/2007

quarta-feira, 31 de março de 2010

Que ser encantado é esse?
que doura o dia e a noite
que no balanço da saia
embala
em bala
doce fascínio
luz azul reluzente
Ré luzente

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

para quem descansa no canto do vento
que não tem paradeiro

aquele com quem troco o turno da vigília

que vai cru
que não chega

o que dispara
aquilo que consigo se depara

puxou os remos para dentro
e agora o vento só te leva
só te leva
nunca mais te traz

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Salto

meus símbolos de liberdade
tornaram-se pedaços de casca sem cor
impróprios para se consumir.
são marcos no batente das portas por onde entrei.
entalhe precioso de um colar
caro demais para se ter quando se tem fome.
peças únicas da engrenagem que o medo se esforça para conter.

catapulta,
arco,
avalanche.

daqui pra trás tem tudo que sei,
adiante de mim,
um véu,
um lacre.

a firme mas não desconhecida barreira,
vozes densas e cheias de mãos,
são vendas, mordaças
e tudo para cegar,
imobilizar,
ensurdecer.

porém,
barreiras também tem ouvidos
e dentro de tudo que me fiz,
me construí,
me gerei,
também sei gritar

longe para mim não tem nome
não sou feita de corpo
pequena ao nú dos olhos,
mas envolta e inundade de fogo
desde o topo até o centro.

de onde nascem os vulcões
é que minha revolta se embasa,
e se me calo verde
e pareço alheia,
é nesse silêncio que me atenho atenta
observo tranquila o movimento dos rios
que férteis alimentam
toda essa engrenagem,
que correm e não apegam
e chegam maduros
à celebração do grande encontro,

então,
sou mar,
sou núvem,
sou chuva,
sou o cume das árvores
e as cascas secas,

a vertigem
o salto
e toda a liberdade

são paulo, julho de 2008